segunda-feira, 28 de junho de 2010

Nós somos os nós


Jusemara Teles

Entre os incontáveis assuntos que causam polêmica entre professores, a utilização da Internet no processo de ensino aprendizagem é como diria minha saudosa avózinha “faísca em um barril de pólvora”. Os mais tradicionais acreditam que a Internet é a grande culpada pelo comportamento “pouco convencional” da juventude diante da educação que lhes é oferecida nas escolas. Os idealistas, que podemos dividir em dois grupos, têm posicionamentos opostos, os “de esquerda” acreditam que a Internet, assim como as demais mídias serve apenas para manipular a massa e pouco oferece para o que eles acreditam ser uma educação crítica. Já o segundo grupo, vou chamá-los de “crentes das grandes teorias da educação” (quero deixar claro que não há qualquer tentativa de conotação preconceituosa, o termo “crente” aqui utilizado refere-se apenas aquele que crê em algo), esse grupo de idealistas acredita que a Internet assim como as demais mídias possui um valor inestimável para a educação, já que oferece uma infinidade de possibilidades para mediar o processo de ensino-aprendizagem, possibilitando que o aluno construa seu próprio conhecimento. Ainda existem outros grupos, com opiniões diversas sobre o assunto, porém os grupos citados representam maior número, e numa discussão quase sempre ganha quem fala mais alto.

E como são ensurdecedoras as frequentes notícias dos crimes praticados na rede mundial, estelionato, pedofilia, prostituição e até suicídios em tempo real. Soa muito alto também a linguagem utilizada nas comunidades, nos chats, nos fóruns dos mais diferentes conteúdos, em tantos lugares, que acaba chegando à escola, profanando esse templo sagrado da sabedoria.

Não há como deixar de ouvir o doloroso clamor dos excluídos, daqueles que não tem como participar do círculo vicioso do consumismo, que não utilizam nem a insignificante linguagem do miguxês (termo utilizado para definir a linguagem da comunidade formada por seguidores do Emocore).

Abafado pelos demais ainda podemos ouvir o entusiasmo diante dos avanços tecnológicos e das possibilidades do uso pedagógico dessas tecnologias, que muitas vezes é tão rápido que os professores acabam enrolados na rede.

O que todos acabam deixando escapar em meio há tantos ruídos, é que a rede só existe por que cada um de nós contribuí de alguma forma na sua construção, nós somos os nós da rede. Somos os nós que atam a rede e também somos os nós que emaranham a rede. A rede existe, e agora o que importa é fazermos uma boa utilização dela. Para isso cabe aos professores, não importa a qual grupo pertença, preparar os alunos que constituem o maior número de nós para o “bom” uso da Internet.

Na crônica intitulada “Como comecei escrever” de Carlos Drummond de Andrade, o autor finaliza afirmando sentir pena dos jovens que não podem desfrutar de uma amizade crítica. Após muito refletir, posso dizer que tenho pena dos jovens que não podem contar com professores críticos. Pois a mesa do café-sentado, lembrada por Carlos Drummond em sua crônica, é muito maior na rede mundial, faltam somente preparar os amigos críticos. Como diria minha sábia avó “o nó que ata é o mesmo que desata”.

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